O momento de parar, para a maioria dos jogadores, é traumático. Muitos ficam sem rumo quando penduram as chuteiras, não sabem o que fazer tocar a vida. Cléber, ex-zagueiro do Atlético-MG, Palmeiras, Cruzeiro, seleção brasileira, entre outros, conseguiu lidar bem com a aposentadoria, sem dramas. Preparou-se para o momento do adeus e hoje é cartola. É exemplo de jogador que soube preservar as boas amizades que fez enquanto era jogador para garantir um futuro fora das quatro linhas.

Cléber na arquibancada do estádio João Paulo II, do Mogi Mirim. Ele e César Sampaio administram o clube, que é presidido à distância por Rivaldo
Com seu estilo nada sutil, marcando forte, duro nas divididas, mas com qualidade suficiente até para bancar o artilheiro, Cléber marcou época no Palmeiras. Ele jogou no clube alviverde entre 1993 e 1999, justamente os anos mais vitoriosos do clube. Foi bicampeão brasileiro (1993 e 94), campeão paulista em 1994 e 96, da Copa do Brasil, em 1998, e, em 1999, conquistou o maior título de sua carreira - e da história do Verdão: a Taça Libertadores.
Em 2006, aos 37 anos, ele deixou de jogar. Seu último contrato foi com o São Caetano. Em 2008, começou a atuar como dirigente no América-MG. No início deste ano, chegou a flertar com o Atlético-MG, clube pelo qual iniciou a carreira como jogador, mas acabou indo mesmo para o Mogi Mirim.
A convivência com Rivaldo e César Sampaio no Palmeiras transformou-se em sólida amizade, que rendeu a Cléber o trabalho no Mogi. Rivaldo, ainda jogando no Budyonkor, do Uzbequistão, é o presidente. Como não pode se dedicar integralmente ao clube, o meia deixou os dois amigos tomando conta do futebol do Sapão. E é assim que Cléber passa os seus dias depois de pendurar as chuteiras.
Cléber, Rivaldo e Sampaio: amizade nasceu no Palmeiras
- É interessante isso. A amizade entre nós permaneceu. Ela sempre esteve em primeiro lugar. Quando você recebe um convite para ocupar esse cargo, que é de confiança, prova que as pessoas confiam em você, no seu caráter. Isso é que me deixa mais feliz. Posso dizer que o futebol me deu esses dois grandes amigos - conta Cléber, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, por telefone.
O ex-zagueiro explica que o trabalho como dirigente exige dedicação integral. Ele diz que o envolvimento com o clube e com os jogadores é total. Algo que não existia quando ele era atleta.
- Tem sido interessante trabalhar como dirigente. Você tem um convívio muito maior com os jogadores e com suas famílias. Quando você é jogador, só pensa no treino, na concentração. Os compromissos são tantos que você não tem como acompanhar o que se passa no clube. Como dirigente você se envolve muito mais. Estou gostando bastante - afirma.
Cléber acredita que os anos em que foi jogador - foram 17 anos como profissional - são fundamentais para o seu trabalho como dirigente. Ele diz que a bola o preparou muito bem para ser cartola.
- A diferença principal (entre ele e dirigentes que nunca jogaram) é que eu vivi muitas situações que os jogadores vivem agora. Acho que sei o momento certo de passar a mão na cabeça ou a hora de cobrar mais forte. Procuro estar sempre presente, dar boas condições aos atletas, pagar em dia. Pois sei bem que, para o jogador atuar bem, isso tudo é fundamental. Tem muito dirigente que não entende isso.
Carreira
Após começar no Atlético-MG, em 1989, Cléber se transferiu para o Logroñes, da Espanha, onde ficou entre 1991 e 93. Voltou para fazer parte da fortíssima equipe montada pelo Palmeiras, que tentava sair de uma fila de 17 anos sem títulos.
- Sou muito grato ao Atlético, que me abriu as portas, mas foi o Palmeiras quem me deu meus principais títulos. Pelo conjunto da obra, o Palmeiras foi o clube mais importante da minha carreira - diz, sem pensar duas vezes.
Ele também não precisa de muito tempo para responder sobre seu título mais importante. Responde à pergunta de bate-pronto.
- Foi a Libertadores, sem dúvida. Tenho boas lembranças do Paulistão de 1996, também, onde fiz gols importantes, mas a Libertadores vai ficar marcada para sempre - comenta.
Cléber foi titular durante toda a campanha palmeirense na competição continental, mas se machucou no primeiro jogo da semifinal, contra o River Plate, em Buenos Aires, e acabou não participando das finais. Seu substituto foi Roque Júnior.
Depois do Palmeiras, Cléber foi para o Cruzeiro, onde ficou até 2001, conquistando a Copa do Brasil de 2000. Depois passou por Santos, Yderdon, da Suíça, Figueirense (onde ficou quase três anos) e, por fim, o São Caetano.
Planos
Totalmente dedicado à nova carreira, Cléber afirma que quer continuar crescendo na carreira. Encara a passagem pelo Mogi Mirim como um aprendizado.
- O trabalho no Mogi Mirim está sendo ótimo. Estamos aprendendo bastante. Quem sabe, um dia, eu não possa chegar a um clube de maior expressão? - conclui Cléber.
Ficha
Nome: Cléber Américo Conceição
Nascimento: 26/7/1969, em Belo Horizonte (MG)
Clubes que defendeu: Atlético-MG (1989 a 91), Logroñes-ESP (1991 a 93), Palmeiras (1993 a 1999), Cruzeiro (2000 a 2001), Santos (2001 a 2002), Yverdon-SUI (2002 a 2003), Figueirense (2003 a 2005), São Caetano (2006).
Títulos: Campenato Mineiro (1989 e 1991), Troféu Ramon de Carranza (1991), Campeonato Brasilelirão (1993 e 94), Campeonato Paulista (1994 e 96), Copa Maria Quitéria (1997), Copa do Brasil (1998 e 2000), Copa Mercosul (1998), Taça Libertadores (1999), Copa Sul-Minas (2001), Campeonato Catarinense (2004)
